quinta-feira, abril 24, 2008

Anonimia

Quero que sáiba que não faço nada porque não posso.
E que não digo nada porque não há nada que consiga falar.
Evito tudo o que poderia fazer mal.
Só não consegui barrar o pensamnto...

Aliás, nos últimos tempos,
Lembrar se tornou tão inevitável quanto o ato de respirar.


Snow, num bilheite de náufrago, desses de garrafa, pelo mar...

Receita para se esquecer um grande amor

(Marcelo Maroldi)

Às vezes eu fecho os olhos, inspiro e procuro sentir a presença de quem já não está por perto. É um método que eu inventei tempos atrás..., e uso sempre quando o amor se transforma em saudade.
Os grandes amores existem. As grandes paixões existem. Eles existem. Eles simplesmente existem. Eu desejo que todo ser humano possa sentir o que eu um dia já senti. Somente uns poucos minutos daquele entorpecimento juvenil, daquela inundação de sentimentos que enlouquecem, daquela loucura toda que te envolve, te amedronta, aquela confusão monstruosa que vivi quando amei. E quando fui amado. Uma paixão avassaladora que me fez acreditar que eu ainda permanecia vivo. Vivo e amando. E amado. Mas, agora, eu fecho os olhos para dormir. A cama cresceu tanto de tamanho, o meu peito cada vez está menor. E muito mais vazio. Ninguém a me ninar. A minha mão não encontra a sua. Quem foi que viu a minha Dor chorando?! (Augusto dos Anjos, "Queixas Noturnas". Mas, no meu caso, diurnas também). Eu quero uma receita para se esquecer um grande amor, o senhor tem aqui para vender? O preço não me interessa, eu só quero poder seguir em frente. Nem precisa ser em frente..., basta seguir. Porque A minha vida sentou-se/ E não há quem a levante (Mário de Sá-Carneiro, "Serradura").

E o vazio logo aparece, não dá um minuto de folga (“meter a cara no trabalho” é algo que também não tem funcionado). O telefone não toca naquela hora, a minha caixa de e-mails não tem pena de mim, já não tem novidade boa a me contar. Uma sensação leve e prematura de derrota logo se apodera da gente. Depois ela cresce. Já não é mais sensação, é derrota mesmo. Eu não tenho mais para quem escrever os meus defeituosos poemas, a quem dedicar meus pensamentos, quem vai me acalmar quando a agonia aparece sem avisar? Eu me sinto tão sozinho. Por vezes eu nem me sinto. Meus olhos não vertem lágrimas, o meu coração não dispara. Será mesmo que estou vivo? Ainda nem maldisse toda a minha sina e mazela, nem afoguei minhas (agora) crônicas mágoas na cachaça libertadora, também não há outro perfume no meu corpo. Viver é amar, um dia me explicaram direitinho. Eu era inocente e acreditei. Só inocentes e tolos crédulos aprendem isso, eu tive o azar de ser um deles. Nem ouso reclamar.

Quando acordei foi em você que eu pensei. Provavelmente pensei em ti durante toda a noite também, mas dessa vez tive a sorte de não recordar. Não importa como minha vida esteja seguindo, é sempre em seu sorriso que meus pensamentos se convergem. Não há fuga nem plano B. Eu aprendi que não é te esquecendo que irei me livrar de você. Não importa quanto tempo transcorra, jamais me esquecerei daquela noite, aquela, quando estupefata você ouviu minha curtíssima e derradeira declaração de amor. Metade do tempo eu reflito sobre o que ela significou e o que ela irá se tornar em alguns parcos anos. Logo, meu coração será de outra, as suas coisas queimarei no quintal (afastando a cachorra para que não se queime) e essa frase eu voltarei a dizer. Mas não para ti, jamais para ti, nunca mais para ti... Você será apenas uma lembrança, feito tantas outras, e eu serei apenas uma lembrança para você... feito tantas outras. Já não me amas? Basta! Irei, triste, e exilado/ Do meu primeiro amor para outro amor, sozinho (Olavo Bilac, "Desterro").

Quem errou mais? Isso não importa agora, logo, posso ficar com toda culpa pelo nosso fracasso. Sempre sonhei com algo diferente, como nos contos de fadas e nos pagodes de três notas (e se me perguntam Que era mesmo que eu queria?/ ”Eu queria uma casinha/ Com varanda para o mar/ Onde brincasse a andorinha/ E onde chegasse o luar”, Vinicius de Moraes, "Sombra e Luz"). A realidade foi deveras distinta disso, só Deus é testemunha das minhas queixas. Mas, nesse momento, nada disso importa, nada do que doeu agora importa. Eu vou ficar aqui, sozinho, com minhas lembranças e nosso fracasso. Vou lembrar das partes boas, para me emocionar com a saudade. Não lembrarei de nenhuma briga, nem nada disso! Eu quero uma receita para esquecer dos momentos ruins, dos bons eu não preciso. Não preciso e não quero. Para que esquecer do que me orgulho? Do que me fez feliz? Deixa a saudade me machucar, meu anjo, uma hora ela se cansa. Eu não abro mão de recordar o quanto fomos felizes. Acabou, mas não sem muito amor. É o fim, mas não antes de muitas promessas de eterna felicidade. É isso o que vale, afinal. Eu busco isso a cada instante de minha vida.

Mas agora ele está lá e eu aqui. Ele está lá seguindo a vida dele, e eu estou aqui, seguindo a minha. Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte (Neruda, "Aqui eu te amo"). Ela esta lá vivendo a vida dela como se nada tivesse acontecido. Acho, realmente não sei dizer (Teus olhos são duas silabas/ Que me custam soletrar./ Teus lábios são dous vocábulos/ Que não posso,/ Que não posso interpretar Fagundes Varela, "Canção Lógica"). Eu aqui, não triste, mas saudoso. Às vezes eu olho para os céus para descobrir se sinto algo de novo. Quem sabe um daqueles meus suspiros. Passo horas olhando as estrelas, sem entender por que elas brilham. Elas deveriam fazê-lo somente quando você fosse minha, não em qualquer situação. Mas você segue a sua vida, almoça feliz e se diverte enquanto procuro a receita para te esquecer. Sei que não irei sofrer, o que me castiga é a saudade. Não irei chorar, nem lamentar, tampouco desejar a morte. Irei apenas seguir em frente, sozinho agora, às vezes pensando: o que será que ela faz nesse momento?, agora que chove lá fora! O que será que ela faz? Será que pensa em mim? Será que sorri? Eu abro os braços para envolver a minha vida.

Lembra da música da Elis? Vou querer amar de novo e se não der eu não vou sofrer...? Preciso te dizer a verdade: se isso acontecer, eu vou sofrer sim, meu coração só existe para amar de novo, espero que você entenda. Eu sigo a minha vida por aqui, você continue a sua por aí. Se consegui a receita para se esquecer de um grande amor? Não, parece que isso não existe mesmo. A minha é seguir em frente, então, e quando não der, chorar, não há problema nenhum isso, quem aprende a amar, aprende a chorar também (Paulinho da Viola, "Amor Amor") . Eu aprendi, pratiquei contigo, jamais te esquecerei.

Cantemos a canção da vida,/ na própria luz consumida...

(Mario Quintana, "Inscrição para uma lareira")

"O ganhador", Lêdo Ivo (sempre ele!):

Tudo o que ganhei se desfez no ar como uma metáfora.
Agora só guardo o que perdi:
o vento que soprava na colina,
a neve que caía no aeroporto
e o teu púbis dourado, o teu púbis dourado.

Nota do Autor
Este texto faz parte da trilogia que começou com "Dos amores possíveis".

Marcelo Maroldi
São Carlos, 3/8/2006


Snow, sem comentários.

sábado, abril 12, 2008

Sobre o silêncio, sobre Neruda, sobre Leone, sobre mãos, bocas e perfumes...

Gosto quando te calas
(Pablo Neruda)

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.


SnowFlake

sexta-feira, abril 11, 2008

Edredon

Sinto bastante frio qnd chove.
São duas calças, duas blusas, dois pares de meias, dois cobertores...
Tudo isso apesar do banho quente e da sopa!
Também sempre passo o inverno sozinha...
Esse frio todo que sinto acho q é pq, no fundo eu tb devo ser como meus amores:
De verão.

Mas não se doa não.
Vc só não deve sentir tb pq tem músculos bem desenvolvidos.
E semana q vem eu vou pra academia nas segundas, quartas e sextas, já q as terças e quintas estão preenchidas pela Defesa Pessoal.

Quem sabe mais fortinha, não dou mais sorte no próximo temporal...


Snow, brrrrr!

Coisa de Pele

O teste de alergia deu positivo pra tudo. Isso significa falso positivo. O q também significa q a alergia verdadeira não pode ser detectada por teste de pele. Pq a pele referida é extra-sensível.
Doeu bem mais q o imaginado fazer o teste de alergia... e sair do laboratório com 36 manchinhas vermelhas nos braços, q deveriam ser apenas pequenas picadinhas de formigas.
Doeu mais ainda passar na clínica de depilação à laser e saber q custa $350,00 a sessão e q as manchinhas de gilete, cera, pinça, aparelho elétrico etc, ainda vão demorar pra deixar usar o biquíni PP. (E comprovar q o extra GG é resultado de uma pele extra-sensível...)
As pequenas dores não a fizeram chorar. Fizeram-na rir do resultado. Rir do remédio comprado com o fim de atenuar a sensibilidade e rir por ter tido um diagnóstico tão óbvio.
Talvez seja resultado desta extra-sensibilidade cutânea o frio q dá na espinha na eminência de prazer ou dor. O frio q é diferente do frio demasiado q sente no inverno e nas noites vazias, seja de frio ou calor.
Talvez explique pq a pele sente o toque da boca só de ver os olhos e lembrar a voz.
Talvez explique pq às vezes o corpo todo se converte em tecido epitelial e é todo tato, a cada simples contato...
Talvez explique as manchinhas extras de raiva, de abraços e de viagens de ônibus.
Talvez esse novo prontuário dermatológico explique a difusão imediata dos arrepios q vão da nuca aos pés num piscar de olhos e retornam, antes q os olhos se abram, dos pés ao pescoço.
Mas talvez tb seja o contrário, e esta extra sensibilidade venha confundir tudo, tornar cada sensação um falso positivo, um caso indiagnosticável.
E, dessa forma, aquele beijo inusitado, ocasionado pelo cabelo preso, q fez ver estrelas onde deveria haver lábios, e mãos onde existiu apenas o vento...
Talvez tenha sido de fato um sopro de alma no ar, sem toque, nem intento.
E qnd o corpo todo foi alma e o q preenchia o corpo era o sentimento,
Não tenha passado de uma confusão de peles
Pêlos, poros, suor e células
Em movimento.


SnowFlake, aula vaga, texto encontrado em caderno do ano passado.
P.S. O original era assinado por Snow, subcutânea. Mas como diria Rafael, já entrou mais um pouquinho.

segunda-feira, abril 07, 2008

Luto

Queria pensar em você, mas não consigo. Não há um assunto específico.
Você está espalhado por todos os conteúdos, todos os tópicos e já não posso reuni-lo.
Ademais, quando encontro algo sobre o qual posso pensar de ti, meu pensamento é interrompido pela lembrança do teu sorriso... tua voz, teu olhar incisivo...
Queria coligir esses insights, reuni-los, catalogá-los, arquivá-los, mas me parece impossível. É tudo tão esparso e fugidio...
Você tem escapado como areia entre os dedos, evaporado como éter... e pensar concisamente é um exercício difícil. Ao mesmo tempo q esquecer-te, impossível.
Mas está é a única coisa q sobrou em mim. Essa interrupção irreversível da presença, q se materializa, ora com a lembrança nítida da tua partida, ora com as inscrições da última despedida, ora com esse caldo quente q escorre pela face e substancia a dor...
E a dor qnd se vê assim, nua e sozinha, expressando o sentimento velado q, mesmo morto, deve ser sepultado escondido, envergonha, por se ter sentido.
A dor q provoca a lágrima é a mesma q estanca o choro e interrompe o pensamento...
Queria escrever-te uma carta de todas essas coisas q não podem ser escritas.
Queria visitar tua última morada e chorar e te contar de como dói acariciar o mármore frio e todos estes objetos vazios e todas as flores sem cor... Flores de dor.
Eu sei q aonde quer q esteja agora você espera q eu me cure, q a tristeza passe e q eu consiga dar um rumo pra minha vida, mas agora a lembrança é uma ferida aberta e dolorida esperando pelo tempo...

Prometo comer todos os dias.
Prometo não chorar tanto.
Prometo não deixar q me machuquem.
Prometo lutar pelo q eu penso.
Prometo me arrumar, sorrir sempre, praticar as coisas boas q eu já fazia e as q eu aprendi contigo...

Prometo sofrer só até parar de sofrer, mas agora não consigo pensar... Nem esquecer.

Tudo cala-me
Tudo cessa-te
Tudo ceifa-se...

Quero ficar aqui.

(Queria q todos saíssem...)


SnowFlake

quarta-feira, abril 02, 2008

Rumo

Hoje ela saiu de casa porque não sabia mais pra aonde ir com tanta tristeza.


SnowFlake

Pequeninos

Sobrinho 1, momento 1:
- Mãe, quando eu crescer quero ser igual à titia estudando.

Sobrinho 2, momento 2:
- Titia, quando eu crescer eu não quero ir pra escola todos os dias e ficar indo pro trabalho todo sábado e todo domingo não.


Snow, q à cada momento q passa descobre q... não cresceu ainda.

Página

Passei o dia sem nem lembrar que era primeiro de abril e não mais março.
Choveu a noite inteira e, tanto pela manhã, que nem fui pra aula.
Também faltei o Goshin Jitsu e não levei as crianças ao karatê.
À noite comprei um par de sapatos vermelhos... Pra combinar com estes meus olhos.
Esse meu olhar distante e evasivo...
Percebi recentemente, me olhando no espelho, que meus olhos freqüentemente têm a cor do desejo.

E deve ser pelo mesmo motivo.


Snow, q à cada ano q passa compra uma agenda menor q a anterior numa tentativa de evitar, certas coisas q... é isso.

terça-feira, abril 01, 2008

Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabor



Snow, sem palavras.