domingo, junho 21, 2009

Crianças

Cheguei em casa com oito esqueletos de dinossauros do comprimento de uns 30 cm cada, acompanhados de suas réplicas menores, com pele, olhos, e cada qual com sua árvore e manual de montagem... Ainda assim, levava em média 5 a 10 minutos para montar cada fóssil de plástico fluorescente os quais comprara fiado no camelô perto do trabalho com quem ainda deixei guardado mais 4, que completavam a coleção, mas que na ocasião, eu não os podia carregar. No meio dessa tarefa quase árdua, um diálogo:

-Titia, João Matheus tem um esqueleto de dinossauro parecido com esses só que é pequeno e branco e não desmonta não, já veio montado.
-Hum.
-Titia, João Matheus disse que aquele esqueleto foi Papai Noel quem deu.
-Pois diga pra ele que os seus quem deu foi Titia Noel.
-E existe Titia Noel?!
-Existe sim: Eu!
-Ahahahahahaaahah!!!

Acho que a origem da lenda do bom velhinho está associada a um também velho ditado que diz respeito aos milagres que são desconsiderados se feitos pelos santos de casa. É verdade, a vida é assim...

No auge dos seus nove anos de idade meu sobrinho não acredita mais em mim.


Snow, com os dedinhos doendo de tanto apertar pinos de ossadas...

Confissão de Fidelidade

Quando tinha 8 anos, me apaixonei pela primeira vez.
A criança tinha 7 anos e cabelos compridos e por esse último detalhe eu não sabia se era menina ou menino. Por esta razão e por alguma outra que desconheço sempre lhe fazia a mesma pergunta e, apesar de ouvir sempre a mesma resposta q às vezes vinha irritada, a esquecia quase que instantaneamente.
Na véspera do último dia de aula, me dei conta q veria pela última vez do ano aquela pessoa, então fiz um plano de perguntar e me esforçar muito pra memorizar a resposta, já q levaria um tempão (naquela época às férias eram um tempão) sem que pudesse fazê-la novamente. Era um menino. Chamava-se Valquer. Ou Valter. E é uma pena que eu não tenha incluído também esta resposta no plano.
Ano seguinte, depois de procurar por ele em todas as possíveis salas até o final do primeiro semestre, me convenci que se ele não voltasse depois das férias, era porque, por mais duro que fosse entender isto, já devia estar estudando em outra escola... Semestre seguinte parei de procurar. Mas não de pensar que o via pelos corredores, distante e de costas, ou em alguma sala que eu não enxergava e não podia entrar.
Quando o ano letivo acabou coloquei um prazo pra essas visões acabarem: o início das aulas do ano seguinte.
Válter, ou Válquer, não voltou.
Foi assim que aos 10 anos eu consegui o meu primeiro grande problema: o que fazer com as paixões perdidas? Só 10 anos depois descobriria que essa resposta não é dada na escola...
O vazio deixado por aquele ser humano branquinho, mais novo e de cabelos compridos foi se tornando mais fraco com o tempo... E vez ou outra tirava um tempo pra dedicar-me a apenas recordar como ele era e como éramos, quando ele era comigo. Nesses minutos, nessas horas, eu chorava. Chorava como uma adulta...
Tinha um terrível medo de que a lembrança dele se afastasse de mim. Queria muito ser forte o bastante pra jamais permitir. Tinha um medo enorme de meu coração o trair.
Só 20 anos mais tarde começaria a entender que é possível estar-se apaixonado por várias pessoas sem que se possa trair nenhuma delas. Porque é possível até que nenhuma delas saiba desta paixão que se tem. Porque o coração tem mais quartos que uma pensão de putas. Como li no Garcia Marques, Memórias de Minhas Putas Tristes.
Mas há 20 anos atrás, quando apareceu um outro rapaz em minha vida, não poderia suspeitar que nada disto existisse.
E este segundo foi mais um dos muitos que jamais souberam que eu o amava.
Esse tinha nome, sobrenome, perfume, era mais velho, moreno... Pra este eu fiz minha primeira carta. Que ele jamais supôs que fui eu quem a escrevi. Isto porque, na minha ânsia de impressionar, imitei a letra de uma menina da sala que eu achava que tinha letra bonita. Foi assim que ele leu meu escrito... E se apaixonou perdidamente por ela...
Ah, meu Deus, como eu sofria vendo ela o rejeitar como a um cachorro! Lembro que cheguei até a conversar com ela pra que o aceitasse. Não agüentava mais vê-lo sofrer.
Já a essa altura o clima tava meio tenso no meu coração. Ora este ora aquele amor me vinham à lembrança e eu sofria por não ter vindo o que eu queria ou por não empatarem, como eu achava que deveriam.
Só que dessa vez fui eu quem mudou de escola. E de bairro. E de vida. (Taí uma coisa que, se um dia filhos eu tiver, jamais quero fazer a eles: roubar-lhes com a distância os amigos de infância. Porque talvez sejam estes os melhores que uma pessoa possa ter na vida.).
Longe, e novamente só com a memória, decidi então tirar dois tempos onde, num momento, me lembraria de um e, noutra hora, recordaria o outro. Assim, equalizando a quantidade de lembranças e emoções e lágrimas, acreditava estar dando assistência a ambos os meus amores. Pouco suspeitava que o remédio que decidi tomar pra não trair era o que anos depois teria gosto de veneno.
Sei que já contei essa mesma história aqui, noutro post que não lembro, e sei que é só mais uma reeditada.
Nunca entendi bem a mudança. Nunca encarei como bom um final. Preferi sempre deixar estas questões mais complicadas pro Tempo resolver. Ele que é meu chefe, sabe mais das coisas que eu que, no fim das contas, só faço mesmo o que ele manda.
Mais sei que é bom este momento em que o layout atual fica mais fraco porque uma nova configuração está sendo instalada...
Ah como eu adoro histórias novas com seus começos que enchem nossa mente de beleza e de gentileza e de encantos e de graça...! Ah como gosto de novidades capazes de ofuscar lembranças empoeiradas! Puxa, eu gosto disto demais!

Sabe quando acontece uma coisa nova assim, muito boa pra a gente e ficamos morrendo de vontade de contar? Pois é, era sobre isto que eu queria falar!

Mas daí que comecei a escrever... E voltei no tempo muitos anos atrás.


Sonw, de sua coleção particular de histórias que não servem.