Moto-táxi - (02/06/05)

Moto-táxi

Eis aqui o inverso do regionalismo.
Ao contrário da imagem q se tem das cidadesinhas do interior onde todo mundo anda a pé, de cavalo ou, no máximo, tem uma bicicleta, o sistema de transporte aqui funciona. (Ia abrir um parêntese só pra dizer q nisso, Teresina dá de 10 a zero em Salvador, mas ia parecer supervalorização do alheio ou questão política então... basta dizer q os Teresinenses são felizes sem saber.).
Aqui, o motivo do funcionamento é simples, primeiro porque só há um lugar para ir: o centro, e segundo, por ser a motocicleta o meio de transporte mais usado na cidade, onde o moto-táxi custa R$2,00... relativamente barato pra um meio de transporte que, você não precisa esperar no ponto, tem a vantagem de te deixar a alguns centímetros do local exato que você quer chegar e isso, num tempo muito menor que o do transporte coletivo.
Aqui tem gente que pega moto-táxi pra tudo. Escola, trabalho, supermercado, motel... Não, eu não tô sendo irônica, é sério mesmo. Motel de moto-táxi... cada um em uma. Aí descem na recepção, pagam os moto-taxistas e dão se as mãos numa cena romântica... E adeus garagem dupla!
Como não moro no Centro e tudo fica concentrado lá, tenho usado algumas vezes esse meio de transporte (nunca dantes navegados por mim). Mas apesar de todas as vantagens desse sistema tão bem aceito nas cidades pequenas, há algumas coisas q eu trocaria pelas veias poluídas das metrópoles.
Nas cidades do interior, ainda, impera a máxima de q, todo mundo conhece todo mundo, e, mesmo essa, com 80.000 habitantes, em média, e uma população flutuante de 20.000, em média, isso é facilmente verificável.
Eu tenho enfrentado algumas situações bem diferentes do meu antigo cotidiano. Do tipo, entrar num supermercado e alguém me olhar e dizer, como se fossemos já “íntimos” : “Vc é de onde?”.
Até aí, tudo bem, mas, quem dera, fosse só no supermercado. Quem dera não se estendesse à farmácia, à papelaria, ao banco, à praça e, quem dera mais ainda, não se estendesse ao tão característico, meio de transporte titulo deste post...

Outro dia, estava eu num deles qnd começou:
“Vc é de onde moça?
“Salvador” – não tava a fim de pensar, tive a infeliz idéia de responder.
“Ta passeando na cidade?”
“Não. A trabalho.”
“Tem parentes aqui?”
Eu deveria ter mentido na resposta.
“É casada?”
Como é que mente?, pensei... pra q p! minha mãe foi me mostrar aquela fita do Pinóquio! Trauma de infância, só pode.
“Já foi casada?”
Não. – Daí pra frente, entendi q poderia perder o controle da situação e, como não estava no controle do volante... um pouco de aspereza não faria mal a ninguém.
“Ta gostando da cidade?”
Praxe. Pensei. Bom, pelo menos mudou de rumo. Mas ainda assim eu já tava nitidamente não gostando.
“ Não.”
“Por quê?”
“Muito diferente.”
“A senhora, desculpa perguntar, nunca foi casada não?”
“Não.” – Dessa vez eu já tinha motivos pra não tar desculpando mais nada. Até pq, o assunto havia voltado...
“E tem quantos anos?”
“26.” – respondi cardinalmente. Mas tudo o q eu queria era, agora, encurtar o caminho.
“A senhora ainda é moça?”
“...”
Acho q minhas reticências o constrangeram, já q, mesmo sem ver meu rosto, ele gaguejou tanto ao concertar:
“Desculpa, a senhora... não deixou algum noivo lá na sua terra, não...?
“Pare. Aqui está bom.”

Faltava muito ainda. Mas na verdade eu teria ficado mesmo era naquelas reticências...
Acho q estou ficando velha... E é algo assim como... o retrato de Dorian Gray...

Snow, forasteira