sábado, julho 26, 2008

Receita

(Nicolas Behr)

Ingredientes

2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles

Modo de preparar

Dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração.

Leve a mistura ao fogo,
adicionando dois conflitos
de gerações às esperanças perdidas.

Corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos
beatles o mesmo processo usado
com os sonhos eróticos, mas desta
vez deixe ferver um pouco mais e
mexa até dissolver.

Parte do sangue pode ser
substituído por suco de
groselha, mas os resultados
não serão os mesmos.

Sirva o poema simples
ou com ilusões.

(Do livro Restos Vitais)

Mérito ou Antiguidade

Embora eu acredite q os meus problemas sejam bastante incomuns com relação aos q me fazem saber dos outros, não acho q minha vida renderia um livro. Há palavras q não pronuncio. E há histórias q não merecem ser contadas.
No mais, uma órfã de tutores q sai adotando entidades e pessoas q passarão o tempo ocupando-se de provar q não merecem tal adoção. (E algumas vezes conseguirão.).
Eu, trato bem a todos. Mesmo os q não merecem ser bem tratados.
Há os q esperneiam feito criança estranhando o colo alheio.
Há os q, sorrateiros, procuram por algo errado. Um desvio, um beneficio ilícito, um interesse oculto... Esses, não acham nada.
Há os q cavam a falta. – Nesse caso eu não hesito em cair. Fora.
Há os pegam o q querem e seguem viagem.
Há os q deixam rastros. Cicatrizes, no caso.
E eu continuo. Não sei como nem por que. Muitos, por muito menos, morrem.
Fico olhando pra tudo como quem sobrevive a uma bomba... q não deixa nada.
Passo dias e noites curando a memória castigada. Já nem sei mais em q ano foi q tirei férias dessas imagens ruins q se renovam.
O psicólogo até tentou. Mas avisaram q eu atraio problemas. E é verdade.
Deve ser pq eu sou boa. Sou simples. De inofensiva aparência. E me recuso a ser áspera e contradizer minha essência.
Trinta anos de ver toda tentativa de construção desmantelada...
Eu não defendo ideais nem ideologias.
Essas coisas perfeitas não existem e, além do mais, eu gosto da existência dos erros.
Errar é característica humana. Só sendo humano pra dar a algo este significado.
Eu defendo pessoas. Já defendi até indefensáveis.
Pessoas são semelhantes. Ideais são de outro naipe.
No passado, em nome de ideais pessoas iam pra fogueira, pra forca, tinham seus pescoços cortados.
Eu defendo os inocentes. Mesmo q tenham pecados.
Eu me baseio em valores. A vida. A paz. A diferença.
A justiça é relativa. E não acredito nela.
Acredito na cor do sangue. Igual em toda raça.
Acredito no sorriso, no abraço.
Eu creio em assinaturas q não têm fé pública.
Eu gosto do sol e da chuva.
E tem um monte de gente q não gosta de gente como eu. Q só ta ali... Não quero vantagens.
No trabalho alguém me elogia por lhe ter tratado bem. E eu tenho receio q esse comentário gere uma sindicância. Pra apurar se eu sou boa mesmo no trato. Ou se é só fachada. Ou melhor, verificar o q eu devo estar querendo ganhar com essa bondade toda...
Estou presa.
Um ano de cadeados e grades.
Faz já um tempão q eu só faço inimizades. Qualquer tentativa extra gera um transtorno tão grande q eu me fecho, cada vez mais.
Esta semana irei a um psiquiatra. Tirar licença médica.

Entrarei para o grupo dos remédios controlados.


Snow, desprovendo-se.