quarta-feira, setembro 06, 2006

Uma poesia premiada aqui (08/10/04)

Tecnocracia

Não há vagas
Não há lugar
Não há espaço
Pra especificar
O que você é.
Não há tempo
Não temos, no momento,
Nenhuma linha disponível
Pra ligar você
Ao nosso sistema
Que, inclusive,
Está fora do ar.
Você precisa
Atualizar
O seu currículo
Globalizar
O seu ridículo
Precisa conectar
Precisa fazer um curso
Um concurso
Vestibular
Precisa pós-graduar-se
E prostrar-se
À tecnologia,
À demagogia,
Você, que antes reagia,
Pulsava,
Agora está plugado
Recebendo pulsos
Nessa rede
De peixes pequenos
Nessa bolsa
De valores obscenos
Neste mundo,
Que antes era grande...
E não há vagas
Para as suas alusões,
Suas vagas conclusões,
Sobre você mesmo.
Não há você.
A empresa somos nós
Somos um grupo
Especializado
Em criar a sua memória
Em construir a sua história
Somos seu maior orgulho
O seu maior prazer
Tudo o que você deseja
E não poderá ter
Mas não se preocupe
Estamos trabalhando
Pro seu conforto
Para que dentro de instantes
Você possa ser desligado
Com segurança


( Railza de Abreu)

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