quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Sem compromisso

Havia uma desonestidade emocional implícita no ato.
Eles conheciam das técnicas, das formas, dos padrões e das rotinas e sabiam bem como combinar as variações de modo q parecesse - e sempre é - inédito e único. E aliás, em nada atrapalha à dança conhecer os passos!
Só um detalhe pairava no ar dispersando as atenções.
E nem o perfume dela, nem a luz, nem o som, as linjeries feitas pra tirar ou o lugar.
Mas aquela vestimenta apertada, lacrada, cheia de nós, velcros barulhentos e inoportunos feches clair, cintos, botões e fivelas q cobriam suas vergonhas psicológicas... e da qual eles apenas desviavam-se. Como se fosse normal e até mesmo necessário q aquelas armaduras os protegessem a cada um, em particular.
Cadeados no lugar de intimidades.
Correntes e amarras onde deveriam haver sonhos.
Travas no lugar de saudades.
Assim, o mero representar de papéis fez das pessoas personagens.
Sintéticas sensações superficializando a organicidade dos sentimentos.
Se tiveram prazer? Sim, mas é claro!
Ele explodiu depois dela ter visto estrelas por duas vezes. Um riacho.
Suados, se abraçaram antes q terminasse o tempo e logo depois de verificada a eficácia do preservativo, regulada a intensidade do ar-condicionado e da tv ter sido desligada.
Mas adiante alguém olha o relógio, puxa o interfone, pede a conta.
O outro já está no chuveiro.
Um terá aula daqui a pouco, ou terá q voltar pro trabalho. Se despedem num meio de caminho.
Enquanto esperanças, fantasias e medos fazem parte de outra época q eles não viveram.
O comportar-se bem, ser gentil, educado e cortês substitui a internalização do respeito.
Os gritos de êxtase substituem a simples entrega, a doação, a confiaça.
Nem sequer suspeitam da traição afetiva mútua... do comum e particular segredo.
Daqui a uma semana se encontram novamente, talvez, pra um cinema ou uma cerveja.
Não fosse o perigo de se apaixonarem, não haveria problema.

Mas por enquanto tão só se conhecendo.


Snow, um floco à frente do seu tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

voltar a aula, ao trabalho? Faz sentido terem suado... embora aí devesse acontecer mesmo que tivessem ficado deitados em cada uma das tangentes da cama.