As estações mudam
As canções também
E até eu mesma...
Vez em quando me calo.
Snow
quinta-feira, agosto 21, 2008
Novela
A favorita era a assassina. Tive a infelicidade de ver esta cena e, mesmo não tendo acompanhado o folhetim moderno, sentir a infame brincadeira do autor de tentar surpreender a audiência... Como todos os outros autores, a todo o tempo.
Mas este foi mais ousado, pois geralmente o assassino é escolhido dentre os que pouco participavam das cenas e que estava entre os tantos que poderiam ter gravado a cena do crime. Desta vez, a assassina era a que foi feita pra ser julgada injustiçada, e as vitimas, os expectadores que acreditavam que não podia ter sido a que já fora condenada.
Eu, num quarto de hospital, acompanhante de um amigo com suspeita de hepatite, tendo raras opções além da TV, vi com desdém o ridículo ter a audácia de nos fazer sentir ridículos.
Há muito que não assisto novelas. Parei no início da adolescência, período em que não lembrava mais das que vira na infância e de lá pra cá não registrei quase nada. Depois até tentei me habituar à dose de emoção esmigalhada gratuita diária que nos oferecem as emissoras de canal aberto, mas não consegui.
Queria até que tivesse sido por um motivo nobre e intelectual como a soberba de dizer que não assisto porque isso tudo é porcaria, é alienação, é perda de tempo e eu gosto é de cultura, de algo com conteúdo, que me faça crescer intelectualmente, mas não. Meu motivo é bem menos rebuscado.
Não assisto por causa dos autores mesmo. Os mesmos.
Estou cansada das Helenas e Dinorás e Brancas, das que vão ter câncer e raspar a cabeça, dos amores que vão chorar todos os capítulos pra ficarem juntos no final – e agora até que isso ta mudando. Eles podem até ficar separados, como amores para serem resolvidos em outra vida... rs. Nessa onipotência ressurreitiva da repetição -. Estou cansada das crianças trabalhando em papéis quase nunca infantis, das vilãs morrendo queimadas ou indo pra um hospício, como se ficar louco fosse conseqüência esperada por ter sido ruim desde o início. Não agüento mais as gêmeas idênticas, uma boa e outra má, os clones de si mesmos fazendo se passar, os mutantes e tanta gente de olhos azuis e os pretos domésticos, solícitos, escravos ou ladrões...
Eu tenho pena de todos eles. Parece que os autores não.
Meu coração lamenta pelos personagens ali, em cada tomada à mercê da caneta – hoje em dia dos bytes – de um escritor que pouco está aí pra os que garantem a audiência, que dirá pra o elenco... que vai se envolver com drogas, cometer delitos, chorar amores perdidos, se decepcionar, ser injustiçado...
E é sempre assim, se se apaixonam no início eu penso cá comigo “coitados”, eu já sei o que lhes reservam os próximos capítulos. Se se esforçam pra fazer uma maldade atrás da outra, jurar que irão se vingar a qualquer custo, que os antagônicos protagonistas hão de os pagar, eu lamento até mais. Fantoches da caoticidade criativa dos autores nacionais, amigos e rivais.
Faz pouco tempo vi capítulos de uma novela estrangeira, (argentina, o Google me disse), que passou no SBT, pela tentativa do autor de fazer diferente. A trama girava em torno de um homem hetero que por meio de um feitiço, que lhe foi jogado por uma ex-amante, ganhou o corpo de uma mulher e conheceu o que na realidade, apesar das transexualidades, nunca será possível: ver por um outro ângulo permanecendo do mesmo lado e poder imaginar como é um “lado de lá” sem sair do lugar.
Do meio pra o final ela já não queria mais voltar a ser ele e ter o seu verdadeiro corpo de volta e temia, como todos, que o feitiço tal qual começara, alheio à sua vontade se desfizesse. E Lolo não fosse mais Lala...
Não vi o final. Melhor. Posso imaginar o quanto quiser que tudo deu certo (sem consultar o Google, claro.), e que todos, conforme os feitos foram recompensados.
Prefiro isto à certeza de que nada valeu a pena. À consciência de que, de tudo o que foi feito, nada pôde ser aproveitado. Prefiro isto às evidências de que o meu castelo de sentimentos fora construído sem alicerces e sem fundamentos e que, ao sopro dos primeiros ventos tornou-se em escombros, tijolos sem cimento, soltos, sem direção... Ilusões desesperançadas.
Dia seguinte levei pro meu amigo o meu aparelho de DVD comprado há apenas quinze dias da data e ainda não inaugurado. Assistimos a alguns filmes piratas. Levei também um livro pra gente estudar pro TRT, dúvidas e o edital. Chega de TV!
De frustrações, enganos, decepções e traições, basta-me a vida real.
Snow, reprisando-se.
Mas este foi mais ousado, pois geralmente o assassino é escolhido dentre os que pouco participavam das cenas e que estava entre os tantos que poderiam ter gravado a cena do crime. Desta vez, a assassina era a que foi feita pra ser julgada injustiçada, e as vitimas, os expectadores que acreditavam que não podia ter sido a que já fora condenada.
Eu, num quarto de hospital, acompanhante de um amigo com suspeita de hepatite, tendo raras opções além da TV, vi com desdém o ridículo ter a audácia de nos fazer sentir ridículos.
Há muito que não assisto novelas. Parei no início da adolescência, período em que não lembrava mais das que vira na infância e de lá pra cá não registrei quase nada. Depois até tentei me habituar à dose de emoção esmigalhada gratuita diária que nos oferecem as emissoras de canal aberto, mas não consegui.
Queria até que tivesse sido por um motivo nobre e intelectual como a soberba de dizer que não assisto porque isso tudo é porcaria, é alienação, é perda de tempo e eu gosto é de cultura, de algo com conteúdo, que me faça crescer intelectualmente, mas não. Meu motivo é bem menos rebuscado.
Não assisto por causa dos autores mesmo. Os mesmos.
Estou cansada das Helenas e Dinorás e Brancas, das que vão ter câncer e raspar a cabeça, dos amores que vão chorar todos os capítulos pra ficarem juntos no final – e agora até que isso ta mudando. Eles podem até ficar separados, como amores para serem resolvidos em outra vida... rs. Nessa onipotência ressurreitiva da repetição -. Estou cansada das crianças trabalhando em papéis quase nunca infantis, das vilãs morrendo queimadas ou indo pra um hospício, como se ficar louco fosse conseqüência esperada por ter sido ruim desde o início. Não agüento mais as gêmeas idênticas, uma boa e outra má, os clones de si mesmos fazendo se passar, os mutantes e tanta gente de olhos azuis e os pretos domésticos, solícitos, escravos ou ladrões...
Eu tenho pena de todos eles. Parece que os autores não.
Meu coração lamenta pelos personagens ali, em cada tomada à mercê da caneta – hoje em dia dos bytes – de um escritor que pouco está aí pra os que garantem a audiência, que dirá pra o elenco... que vai se envolver com drogas, cometer delitos, chorar amores perdidos, se decepcionar, ser injustiçado...
E é sempre assim, se se apaixonam no início eu penso cá comigo “coitados”, eu já sei o que lhes reservam os próximos capítulos. Se se esforçam pra fazer uma maldade atrás da outra, jurar que irão se vingar a qualquer custo, que os antagônicos protagonistas hão de os pagar, eu lamento até mais. Fantoches da caoticidade criativa dos autores nacionais, amigos e rivais.
Faz pouco tempo vi capítulos de uma novela estrangeira, (argentina, o Google me disse), que passou no SBT, pela tentativa do autor de fazer diferente. A trama girava em torno de um homem hetero que por meio de um feitiço, que lhe foi jogado por uma ex-amante, ganhou o corpo de uma mulher e conheceu o que na realidade, apesar das transexualidades, nunca será possível: ver por um outro ângulo permanecendo do mesmo lado e poder imaginar como é um “lado de lá” sem sair do lugar.
Do meio pra o final ela já não queria mais voltar a ser ele e ter o seu verdadeiro corpo de volta e temia, como todos, que o feitiço tal qual começara, alheio à sua vontade se desfizesse. E Lolo não fosse mais Lala...
Não vi o final. Melhor. Posso imaginar o quanto quiser que tudo deu certo (sem consultar o Google, claro.), e que todos, conforme os feitos foram recompensados.
Prefiro isto à certeza de que nada valeu a pena. À consciência de que, de tudo o que foi feito, nada pôde ser aproveitado. Prefiro isto às evidências de que o meu castelo de sentimentos fora construído sem alicerces e sem fundamentos e que, ao sopro dos primeiros ventos tornou-se em escombros, tijolos sem cimento, soltos, sem direção... Ilusões desesperançadas.
Dia seguinte levei pro meu amigo o meu aparelho de DVD comprado há apenas quinze dias da data e ainda não inaugurado. Assistimos a alguns filmes piratas. Levei também um livro pra gente estudar pro TRT, dúvidas e o edital. Chega de TV!
De frustrações, enganos, decepções e traições, basta-me a vida real.
Snow, reprisando-se.
Confissão
Faz já um tempo que eu não te amo.
Porém, só me dei conta disso ontem
Quando a solidão
Sussurrou ao meu ouvido.
Snow
Porém, só me dei conta disso ontem
Quando a solidão
Sussurrou ao meu ouvido.
Snow
Liquído
Eu queria já ter tido as aulas práticas de psicologia com o ratinho.
Não q eu goste da idéia de deixar o pobre do animal em abstinência só pra fazê-lo puxar cordinhas e tocar bastões, essa parte eu odeio! Mas eu gosto de pensar sobre o valor q damos pras coisas e acredito q uma vida está sempre baseada nos valores q se aprendeu a dar pras vivências das experiências q se teve, no tempo q existiram.
Isso do rato sentir tanta sede a ponto de fazer tudo o que estiver a seu alcance para conseguir água me desperta para um mundo tão complexo e íntimo de abstinências e saceios (é assim q escreve? O Word não reconhece.) que chego a achar que é injusto que eu aprenda mais que ele, a cobaia que de fato sente.
Todos nós temos sedes.
Lembrei agora do que uma amiga me contou certa vez sobre sua infância difícil e da primeira vez que sentiu vontade de comer um biscoito Negresco. Aí depois de um tempo uma colega deu pra ela uma bolachinha do seu pacote e a que há muito desejava provar, maravilhou-se com o sabor e alimentou o sonho de um dia poder comprar um pacote inteiro e comê-lo sozinha.
Isso explicou porque ninguém entendeu quando, adolescente, já trabalhando, pegou seu primeiro salário e comprou vários pacotes de Negresco e, ao abrir o primeiro, saboreou-o deliciosamente como se fora um manjar. Àquela época já havia se passado tanto tempo desde o primeiro desejo, que o biscoito não era mais novidade pros outros e já não estava mais na moda. Já existiam tantos que pareciam melhores que ele e aquele, na verdade, já tinha mudado até de nome...
Eu tenho receios de falar das minhas sedes. Mesmo quando o lugar me parece meu, prefiro dar um exemplo alheio. Falar de um anônimo me parece mais válido do dizer do quanto era precioso para mim aquele detalhe.
Talvez o medo de me ver obrigada a redimensionar as coisas que vejo, da maneira como eu vejo. E ver o quanto a minha sede me impede de observar que a água é um dos recursos mais abundantes do planeta... Mas esse é o meu medo mais modesto.
O concreto é saber – e sei mesmo – que as pessoas outras, tais como os nadadores, os pescadores, os mergulhadores, os navegadores e mesmo aqueles que apenas abrem a geladeira e se servem de um copo d’água quando têm sede, estes jamais entenderão o que eu sinto quando olho pra ela... Nunca poderão compreender o valor que tem pra mim cada gota.
E há ainda o motivo mais egoísta e covarde de todos. O meu medo de que, ao revelar minha sede, estes que ouvem ainda me façam chorar...
E eu seque.
Snow, sobre chuvas de madrugada.
Não q eu goste da idéia de deixar o pobre do animal em abstinência só pra fazê-lo puxar cordinhas e tocar bastões, essa parte eu odeio! Mas eu gosto de pensar sobre o valor q damos pras coisas e acredito q uma vida está sempre baseada nos valores q se aprendeu a dar pras vivências das experiências q se teve, no tempo q existiram.
Isso do rato sentir tanta sede a ponto de fazer tudo o que estiver a seu alcance para conseguir água me desperta para um mundo tão complexo e íntimo de abstinências e saceios (é assim q escreve? O Word não reconhece.) que chego a achar que é injusto que eu aprenda mais que ele, a cobaia que de fato sente.
Todos nós temos sedes.
Lembrei agora do que uma amiga me contou certa vez sobre sua infância difícil e da primeira vez que sentiu vontade de comer um biscoito Negresco. Aí depois de um tempo uma colega deu pra ela uma bolachinha do seu pacote e a que há muito desejava provar, maravilhou-se com o sabor e alimentou o sonho de um dia poder comprar um pacote inteiro e comê-lo sozinha.
Isso explicou porque ninguém entendeu quando, adolescente, já trabalhando, pegou seu primeiro salário e comprou vários pacotes de Negresco e, ao abrir o primeiro, saboreou-o deliciosamente como se fora um manjar. Àquela época já havia se passado tanto tempo desde o primeiro desejo, que o biscoito não era mais novidade pros outros e já não estava mais na moda. Já existiam tantos que pareciam melhores que ele e aquele, na verdade, já tinha mudado até de nome...
Eu tenho receios de falar das minhas sedes. Mesmo quando o lugar me parece meu, prefiro dar um exemplo alheio. Falar de um anônimo me parece mais válido do dizer do quanto era precioso para mim aquele detalhe.
Talvez o medo de me ver obrigada a redimensionar as coisas que vejo, da maneira como eu vejo. E ver o quanto a minha sede me impede de observar que a água é um dos recursos mais abundantes do planeta... Mas esse é o meu medo mais modesto.
O concreto é saber – e sei mesmo – que as pessoas outras, tais como os nadadores, os pescadores, os mergulhadores, os navegadores e mesmo aqueles que apenas abrem a geladeira e se servem de um copo d’água quando têm sede, estes jamais entenderão o que eu sinto quando olho pra ela... Nunca poderão compreender o valor que tem pra mim cada gota.
E há ainda o motivo mais egoísta e covarde de todos. O meu medo de que, ao revelar minha sede, estes que ouvem ainda me façam chorar...
E eu seque.
Snow, sobre chuvas de madrugada.
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