quinta-feira, setembro 04, 2008

Caríssimos

"Eu estou precisando urgentemente de um abraço.
E a dor é tamanha que acho que esse tipo de tratamento deveria ser coberto pelo SUS. No meu caso, iria pra uma UTI.
Mas a você que está lendo, já não é mais permitido ofertar o remédio para este meu sofrimento. Porque o abraço que eu preciso tem que vir sem ser pedido, protocolado, requisitado. E tem que vir de graça, sem ônus, impostos, sem que seja um pequeno investimento... Não pode ser tarifado.
É paradoxo isso de não servir. Eu também acho.
Mas realmente não serve. Da mesma forma que não serve o analgésico do qual se sabe placebo. Em caso isolados, colateralmente, já foi observado até agravamentos.
Só os desabraçados podem imaginar como eu me sinto... Com esses meus dois bracinhos que me parecem imensos. Inativos, posto que não me satisfazem. Sequer tentam.
E um abraço não se encontra numa esquina. E eu não quero nada que não seja expontâneo. Nem pediria. Porque não peço nada cujo prêmio esteja além do próprio pedido... como pedir desculpas, por exemplo. Isso eu peço.
Acredito que o máximo que posso fazer é o pedido. Mas não posso pedir que me peçam, assim como também não aceitaria tal pedido.
O mínimo que peço é desculpas por não poder pedir um abraço e por não aceitar se, de alguma forma, já o houver pedido.
Abraço é dado. Lançado. Na certeza que o maior número de pontos será alcansado."

***

Engraçado, comecei esse texto ano passado, e até hoje não sei como terminá-lo.
Este último não me abraçava pra dormir.
Fechava os braços em posição de guarda como fazem os lutadores e eu ficava do meu canto, indefesa, olhando ele fechar também os olhos, a boca, o corpo, o punho... Ficava imaginando o que faria caso ele acordasse com os meus soluços. Enxugava o rosto, adormecia.
Dia desses revi aquela pegadinha manjada do abraço em que um rapaz sai com um placa escrita "Abraços Grátis" e passeia por uma avenida movimentada. No começo pensamos que ninguém atenderá ao seu chamado, mas no final a gente percebe que a soma dos que se dispuseram foi satisfatória. E ficamos com aquela sensação humana de que, apesar de tudo, valeu a pena.
Há alguns dias meu sobrinho me avistou na rua. Soltou-se das mãos que o conduziam e correu em minha direção pra me abraçar, sorrindo.
Crianças não precisam de placas. Nem as entenderiam.
Mas ontem à noite me senti como aquele homem da pegadinha, andando pelas ruas, pegando filas, esperando ônibus, sempre com a minha plaquinha...

A única diferença entre a minha vida real e a tv é que, por onde eu passava, as pessoas, eu acho, eram todas adultas.
E não sabiam ler.

***

Como esse foi um péssimo jeito de terminar um escrito, vou continuar.
Eu não ando muito bem, deve ser por isso. E sei que ninguém pode ser culpado por não ter aprendido a entender um código que não ensinei...
Vivemos diferenciando as pessoas por não saberem aquilo que aprendemos, por não terem valores semelhantes aos que temos... Somos tão egoístas que por pouco que nos damos acreditamos que deveríamos ser recompensados...
A vida não é assim. Ghandy foi assassinado, Cristo crucificado, Tiradentes foi enforcado... E eu nem sei o que foi feito de Zumbi.
Tive uma conversa difícil ontem pela manhã, um dia pesado, uma noite de pesadelos. Faz já um tempo eu tô querendo um pouco de calma, mas a calma não veio.
Esse texto entre os escritos do ano passado, tava guardando pra concluir de forma otimista, esperançosa... alegre, ao menos. Mas vou guardar agora apenas a minha plaquinha de "Abraços Grátis", ou melhor, atualizá-la para "Abraços Muito Caros", e tentar esquecer um pouco essa minha busca.
(Achar que esquecerei mesmo é querer me enganar, e eu me conheço.)

Vou esperar que alguém que possa pagar,
Um dia me pergunte quanto custa.


SnowFlake.

Um comentário:

Anônimo disse...

ah, pensei q vc ia colocar aquele do sms...