sexta-feira, setembro 15, 2006

Desculpa (06/04/05)


Sob todo este meu discurso há a moldura do medo.
Eu, que com tanta veleidade admirei a coragem, não tenho mais a pretensão de justificar meu medo, este sentimento ínfimo e covarde, antes, tão calorosamente acobertado por minha persuasiva retórica - a mesma que hoje, não me trás glória alguma – deixei prevalecer a cautela sobre a vontade.
Talvez, no falar sobre o medo, resida alguma coragem. Mas a isto também se pode chamar vaidade.
Talvez, no ver de perto o medo, e no sentir, e no tocar, e no admitir esteja implícita alguma humildade. Mas há nisto também seu grau de hipocrisia...
O meu medo venceu-me e aqui estou sob este céu cinza. Este céu sem cor, para onde miram os covardes...
Restou-me a busca ainda.
Restou-me a solidão dos fracos.
E este remorso que não quero sentir, posto que nunca o admitiria.
Restou-me mirar o infinito e imaginar feitos grandes, maiores. Para que, se alcançados, dêem sentido aos meus atos, meus desdéns, e às banalizações que fiz das coisas simples que me traziam tanta alegria... e que por falta de coragem deixei partir.
Perdoe-me, oh poesia!
Perdoe-me por não a ter abraçado quando era tão pouco o que de mim querias.

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