sexta-feira, novembro 03, 2006

Épico - (24/03/06 - 26/03/06)

Épico

Às vezes me atento na tentativa (vã) de exaurir um pensamento desconcertante, mas é interessante como nessa hora, nada se expurga da mente, né? Nada extingue, nada apaga como com o shift+del. No máximo, é possível mandar para a lixeira e tentar retomar a vida normal antes do abrir da caixa de diálogos na mente nos mostrar novamente aquele pensamento “indesejado”, bem à nossa frente.
Haverá um aspirador de pó pra memória?
Há melhor q isto, é verdade: o tempo. Senhor soberano q faz os significados irem tomando outros significados até ficarem insignificantes... Mas tempo demanda tempo, e eu queria pra já!
E aí me pego rabiscando mais uma página virtual para fechar a tal caixa , remover o arquivo “infectado” e formatar a partição em q ele se encontra alojado.
E basta virar a página pra descobrir, assombrada, entre os feitos da poesia educativa helênica, q o maldito migrou de partição e infectou uma nova página!
Recomeça o processo.
Dessa vez, s/ scan.
Tento deletar tudo, enquanto, do papel, Homero me olha desconfiado.
Como a máquina em questão sou eu ( minhas emoções, meus sentimentos, vivências subjetivas e práticas), o grau de dificuldade da retirada desse “tumor” vai aumentando conforme o lugar onde ele ataca.
Assim, quando a mente o rejeita, ele rapidamente migra para as pernas e elas se vêem inquietas. Até q é apagado novamente. Mas depois disto, eu consigo sentir seu cheiro, pq ele já passou ao nariz... ah, infeliz! O perfume do pensamento invade novamente a cabeça e a caixa d diálogo outra vez... Deixa. Trato deste traste mais tarde.
Retomo a leitura.
Página virada, Homero perde a paciência e grita. Ouço calada. Aborrecida. Ele está certo mesmo milênios depois da Ilíada.
O corpo é submisso à alma. O corpo, o corpo... Homero!
Retomo a formatação fracionada.
E então parece tarde. O virótico migra p/ a boca e daí à pele há d ser um pulo. Engulo-o antes q escorra pelos poros... Como se pudesse! Já não sei até onde o controlo.
Me debato com o texto, xingo a Odisséia, rejeito-o a tapas e ele sorri... como se houvera ganho a batalha com o meu sistema de defesa.
Suada, exausta, as mãos na cabeça, faço um apelo enquanto qse choro:
-Ah, maldito pensamento, desista! Eu o imploro...!
Deito.
Deixo q ele permeie novamente as minhas idéias, se aposse das minhas senhas, se implante e execute suas funções de desestruturalização do meu tão vulnerável sistema.
Sinto-o controlar os meus pés numa tentativa d me fazer cócegas.
A boca responde com um indisfarçável ar de riso.
E nesse instante o pensamento se apossa de mim e me usa como apenas corpo, alojamento pra q ele, supremo, reine sobre minha subjugada e humilhada autonomia. Onde estará a minha alma...? O corpo está submisso.
A essa altura Homero já não dá mais ouvidos a palavras minhas. Balança a cabeça negativamente e se retira. Já ñ crê em mais nada q eu o diga.

Snow, falando grego.


P. S. Dividi o texto em dois pq, qse três horas depois de tentar reduzi-lo, percebi q devido a cortes, havia ficado ridículo. Um dia eu juro q pago o theblog e ganho o direito de postar mais de 4000 caracteres. Espero q daqui até lá, eu ainda consiga reconhecer os elementos q caracterizam um texto e os q o desmentem.

(continuação do texto anterior)

A Saga


Eu sussurro, e não mais grito.
Em mais uma tentativa frustrada de retomar o controle, resolvo interrogar ao pensamento a sua causa:
- Por que já q tens tanta força assim sobre mim, não passas de mero pensamento e torna-te real? Pq, algo com esta intensidade, se permite estar restrito apenas à esfera do invisível, negando-se a compartilhar com mais alguém e assim vir a ser fato, realidade, plausível...?
E o maldito pensamento gargalha do meu não-juízo.
Consegui o q queria o desgraçado! Enlouqueceu-me.
Então, percebendo q isto não pode ser negado, dá maneira mais dolorosa possível, ele se concentra todo em meu peito e, numa arrancada só, sai pelos meus olhos em correnteza e me deixa... Desorientada.
Limpo o rosto, viro o travesseiro, retomo lentamente a consciência do meu quarto e dos meus estudos e espero, do mais profundo, q o pensamento esteja se sentindo saciado para q, ao menos assim, demore-se mais a abrir novas janelas na minha área d trabalho. Já não suportaria tais diálogos...
No texto, Homero, aqui e ali, borrado por minhas cristalinas expressões humanas, roga aos deuses q esta tempestade passe. Que os ventos mudem ou q eu me adapte. Me acostume, me eduque, me contenha!
Ou, q os supremos aumentem as horas dos meus dias e noites, e q eu tenha tempo suficiente para entregar esta famigerada resenha!

Snow, duas horas mais tarde. Heroicamente.

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