terça-feira, março 27, 2007

Elementos

Choveu a noite inteira.
Os pingos da chuva acalentando a noite turva despudoradamente, ora com força, ora de mansinho, como quem está mais interessado no molhar e no romper das gotas sobre o chão q no verter-se, precipitando-se sobre tudo q existe do ar ao subterrâneo, num inevitável caminho.
Chuva q afaga, chuva q refresca, chuva q invade, chuva q fertiliza...
A chuva q dissolve os sais e os transforma em seiva e enverdece a superfície desse outono q começa... Chuva q reúne a matéria bruta e substancializa a vida.
A chuva quer mais, quer o seio da terra, quer sua pele, correr sobre seus rios, suas veias, suas entranhas, seu mar... A chuva quer fluir sobre a solidez, acariciar, abrir-lhe os poros.
Mas q chover, a chuva quer umedecer... e a terra responde.
Essa madrugada, a chuva rompeu a barreira do ar e jogou-se à terra. E ela a acolheu e bebeu toda a sua água, reteve seus flúidos. Como se dentro de si houvesse perene fogo a desejar refrescar-se.
Como se esta união fosse mutuamente concreta e cósmica e esta ânsia de saciar fosse possível e desejável feito um realimetar ciclíco e dinâmico.
E todo o jogo universal fosse, em sua estrutura mais simples e molecular, um beijo.

Ou o entrelaçar de corpos q se completam
Num encontro romântico.


Snow, março e seus imensos dias e noites, cujo refúgio é o delírio.

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