(Paulo Mendes Campos)
Eu estava numa banca de jornais na Avenida, quando a mão do mendigo se estendeu. Dei-lhe uma nota tão suja e amassada quanto ele. Guardou-a no bolso, agradeceu com um seco obrigado e começou a ler as manchetes vespertinas. Depois me disse :
- Não acredito um pingo em jornalistas. São muito mentirosos. Mas ta certo: mentem para ganhar a vida. O importante é o homem ganhar a vida, o resto é besteira.
Calou-se e continuou a ler as notícias eleitorais:
- O Brasil ainda não teve um governo que prestasse, nem rei, nem presidente. Tudo uma cambada só.
Reconheceu algumas qualidades nessa ou naquela figura ( aliás, com invulgar pertinência para um mendigo), mas isso, a seu ver não queria dizer nada:
- O problema é o fundo da coisa: o caso é que o homem não presta. Ora, se o homem não presta, todos os futuros presidentes serão ruins. A natureza humana é que é de barro ordinário. Meu pai, por exemplo, foi um homem bastante bom. Mas não deu certo ser bom durante muito tempo: então ele virou ruim.
Suspeitando de que eu não estivesse convencido de sua teoria, passou a demonstrar para mim que também ele era um sujeito ordinário como os outros:
- O Senhor não vê? Estou aqui pedindo esmola, quando poderia estar trabalhando. Eu não tenho defeito físico nenhum e até que não posso me queixar da saúde.
Tirei do bolso uma nota de cinqüenta e lhe ofereci pela franqueza.
- Muito obrigado, moço, mas não vá pensar que vou tirar o senhor da minha teoria. Vai me desculpar, mas o senhor também é, no fundo, igualzinho aos outros. Aliás, quer saber de uma coisa? Houve um homem de fato bom, cem por cento bom. Chamava-se Jesus Cristo. Mas o senhor viu o que fizeram com ele?
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Snow, da coleção the best.
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2 comentários:
cem por cento bom? pra ser crucificado alguma coisa fez... ser preterido por BARRABÁS, por exemplo, não foi de graça...
isso se ele existiu...
Anônimo, assim vc tá pior q o mendigo, seu herege!!! rsrs
E olha q eu ão vou lhe dar nada!
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