Há coisas que não devem ser ditas antes de poderem ser ouvidas.
Essa frase parece óbvia, mas acreditem, é preciso algum tempo pra que possa ser compreendida em toda a sua profundidade. E esse tempo está bem longe da infância e da adolescência. Talvez até da idade madura. Sim, porque é preciso mais sabedoria pra calar que pra dizer.
Antes desse estado temos aí a “manha”, a “malícia”, a “experiência” que são precursores brutos da chamada “sabedoria”.
Há quase um mês uma vizinha me encontrou num ônibus e veio sentar do meu lado pra conversar comigo. Saber das minhas viagens, provas, concursos, de como vão meus estudos... O brilho em seu olhar quase me envaideceu mais do que me permito, porém tive que lembrá-la de que nada daqueles elogios muitos que me fez poderia ainda ser dito. Porque é ainda meio do caminho. Talvez pré-história, início.
É pelo menos assim que a Historia nos é contada. Existe sempre um modelo do que é “dar certo”, ser “bem-sucedido”, obter “êxito”, e dentro destes padrões e seus opostos é que se traçam os personagens e seus atributos. Quando eles conseguem é “revolução”, “conquista”. Se perdem é “revolta”, “motim”, “rebelião”, “tetativa”. E é preciso esperar. Até porque, as vezes, no meio, é impossível predizer o que virá depois de um tempo. Principalmente quando já vimos muitos começos se perderem...
Dos 17 aos 22 eu estive fascinada pelos começos. Adorava começos. Todos: um novo curso, uma nova turma, um novo encontro, um novo dia, uma nova possibilidade... todos eram flores!
Dos 23 aos 29 no entanto, me converti calorosamente aos meios. E danassem-se os fins! Ou o que tivesse ocorrido ocasionalmente para que fosse assim. Importava o que era, o que tinha, o que vinha sendo. Dar certo era sinônimo de ter tido um meio. Ter passado do começo por um caminho...
Também, começar havia ficado bem mais arriscado. Começar de novo então, meu Deus! Tudo menos o desconhecido! Já os velhos erros eram bem-vindos...
Alguma coisa parece ter mudado discretamente porque já não me sinto próxima do primeiro nem do segundo nível.
Sinto-me mais inclinada ao fim.
Um dia termina, sabe? Acaba.
E aí a gente vê se deu ou não certo. Mas antes desse ponto tudo é metade. É rabisco, é projeto... rastro.
E há coisas que ainda devem se manter impronunciadas.
É preciso passar o portão pra rir do cachorro, ter uma câmera pra falar das próprias fotos, pedir demissão pra mandar o chefe tomar no cu, sair de casa pra testar a potência das caixas-de-som, pagar a conta pra apagar as luzes...
Adolescentes pensarão ter mil e um argumentos pra cada uma destas frases/ períodos. Mas não usarão nenhum corretamente. Baterão portas, arremessarão pratos, dirão alguma palavra feia, um grito, uma evasiva.
Crianças não compreenderão. E nem todos os adultos. Porque idade não basta.
Eu já fiz coisas geniais com quase nenhuma prática. Mas já não quero mais fazer pedidos nem esfregar lâmpadas...
Nos próximos tempos, do esforço brotará o talento limado a ferro e fogo.
E depois do começo será meio até o fim.
Porque meu espírito de gênio já foi genioso demais comigo.
Snow, Idade Contemporânea.
P.S.
Este é novinho, tem uns 15 dias. Nasceu logo depois da certeza de que o anterior estava pronto, era parte do P.S. Mas aí ficou grande demais...
As metáforas vão ficando mais evasivas mesmo. É esse tal pós-modernismo.
P.S.1.
Um dia eu vou atrasar os textos só porque deu preguiça...
Ai, ai...
quinta-feira, dezembro 04, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
"As metáforas vão ficando mais evasivas mesmo. É esse tal pós-modernismo."... tem razão, já nem sei mais como comentar... apenas espero q termine bem.
Postar um comentário