sexta-feira, janeiro 16, 2009

Aurora

Apenas a escuridão a absorve.
Vagueia pelo caminho das árvores e colinas cheias de mistérios procurando por algo vivo, enquanto é tempo.
Nada mais além de andar como se de olhos fechados aonde o calor vem do sague que jorra por entre os lábios. E alimenta...
Sente sede e fome. O mais, há muito que esqueceu o gosto.
Já não sabe o quanto de humana carrega ainda desde a última vez que se viu num espelho. Está fria, faz tempo que já não reflete.
E enquanto os dentes roçam a carne ávida por ser devorada ela crava, sorvendo o que pra muitos deve ser vida.
Uma eternidade se passou desde que fora criada. Já não faz mais aniversário. Pouco importa se haverá lua, chuva, frio, calor, nuvem, estrelas... O único tempo que existe é a madrugada.
Se esconde da luz, foge da cruz, já não tem alma.
(Não entende porque ainda chora.)
Gosta do mar, da areia, do vento... Mas sua pele sensível se incineraria ao sol, numa praia.
Não respira, não cresce, não gera, sequer morre...
É assim que vive.
Só vive enquanto está escuro, só existe se anoitece...

E nos demais dias ela dorme.


Snow, shadows.

Um comentário:

Ilmaralina disse...

Muito lindo e muito triste!

Mas há que deixar a luz do sol iluminar a tua alma, sombras existem, mas o dia sempre nasce, sempre nasce.


Beijos,

Ilmaralina