sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Dissonância

Em meio à festa sentiu-se meio só.
A língua presa a algumas poucas palavras do seu inglês de dicionário não disse muita coisa ao gringo q lhe cortejava.
O grupo, em ritmo de rock, destoava do afrojazzsamba sangüíneo da multidão aglomerada.
Ela até gostou da batucada, mas já não escutava. O ruído, a não-pertinência, tudo incomodada.
(No universo dos valores q tinha, sabia o q cada um ali secretamente buscava.)
Ouviu palavras sem sentido.
Sentiu sons pros quais não teve palavras.
Sorrisos às despedidas, beijos às chegadas.
Dispensou a latinha - na sobriedade daquele estado transitório de plena lucidez -, sabia-se por demais embriagada.
Quase disse tudo o q tinha pra dizer.
Quase não disse nada.
Compreendeu muito pouco.
Reteve recortes.
Nada encaixava.
Viu de perto a auto-implosão de uma imagem q ela mesma criara. Lamentou. Era uma bela história pra uma personagem catártica.
Nisso, o cara do microfone pára o som e diz, olhando nos olhos dela, q ninguém virá resgatá-la.
Ela, q não sabe planejar, tão pouco dar chances ao acaso, abandonou mais meia dúzia de sonhos na última música não dançada.
Queria mesmo ter sentido medo. Raiva, indignação ou qlq daqueles sentimentos tão expressivos da adolescência. Mas nem tristeza...
Decidiu q nunca mais iria a um lugar q gostasse acompanhada de quem não gostasse do mesmo lugar q ela.
Decidiu q só iria a um lugar q não gostasse se acompanhada de alguém de quem gostasse muito, e q gostasse muito do lugar, e tb gostasse dela.
Quando os pés cansaram, achou um cantinho na calçada.
Ainda fitou um ou dois desconhecidos, mas nada a balançava. As tentativas de aproximação não mexiam com ela.
No caminho ainda disse algumas verdades q ninguém mais acreditava.
Se ao menos tivesse chegado mais cedo...
Bom, é sempre muito tarde pra conclusões precipitadas.
No mais, era mesmo hora de voltar pra casa.


Snow, sem muita idéia pra dar.

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