segunda-feira, maio 21, 2007

Águas passadas

A minha tia tem os olhos marejados.
A minha tia qnd me olha tem os olhos marejados.
É diferente daquele momento emocionado em q se está prestes a saltar pelas janelas da alma... ela tem um lacrimejar constante, um olhar empoçado.
Eu não entendo bem o q ela fala. Ela não escuta direito, às vezes grita, outras fala alto. É provável q ela tb não entenda sempre o q diz e tenha já uma linguagem própria de quem qse sempre não fala nada.
É provável tb q eu nunca saiba de onde provém tanto choro q qse nunca cai, mas ficam ali, naqueles olhos castanho-azulados, beirando... sempre pronto a ser chorado.
Ela esconde o riso com as mãos, isso é outro detalhe. Qnd ela vai rir de qlq coisa, esconde a cara. E mesmo nesse momento, pelos leitos da pele enrugada, a represa ciliar se rompe...
Lembro de mim pequenininha, brincando na chácara onde ela morava – e ainda mora - , inventei de subir no pé de goiaba e na hora de descer tive medo. Ela me tirou de lá a cipoadas...
Outra ocasião, eu menor ainda, fui atravessar um dos pequenos córregos de água límpida q separam os canteiros de rosas q ela plantava qnd, de repente, comecei a afundar na terra fofa, pantanosa, movediça do fundo... gritei desesperada! Mas ela apareceu do meu lado imediatamente e me puxou como se não fosse nada. Na feição, apenas a raiva por ter sido incomodada. Eu, suja de lama, com medo das sanguessugas, chorando, estatelada.
A minha tia me encontra qse toda semana, como se não me visse a mais de vinte anos. E se espanta com a cor do meu cabelo, pergunta pq cortei, alonguei, trancei, se já casei, cadê o namorado... sempre com aquela expressão de ‘você não mudou nada’...
Eu não sei bem se ela sabe, mas ela sabe bem como assustar uma criança.
E saem milhões de olhos de todas aquelas lágrimas.


Snow, sobrinhográfica.

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